ChatGPT e o Estilo Ghibli: Criatividade ou Controvérsia?
- Rubens Bueno

- 2 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de abr.
Imagens no estilo do Studio Ghibli criadas pelo ChatGPT viralizam nas redes, encantando milhões de usuários. Porém, a tendência levanta debates sobre direitos autorais e o impacto da inteligência artificial na arte, reacendendo críticas do lendário Hayao Miyazaki, cofundador do estúdio japonês.
Nos últimos dias, uma funcionalidade do ChatGPT chamou atenção nas redes sociais ao permitir a criação de imagens no estilo do Studio Ghibli, o lendário estúdio japonês de animação responsável por alguns dos filmes mais amados da história do cinema. Obras como A Viagem de Chihiro, Meu Amigo Totoro e O Castelo Animado são apenas alguns exemplos de produções que marcaram gerações com suas histórias emocionantes, visuais deslumbrantes e uma profunda conexão com a natureza e a cultura japonesa. Fundado em 1985 por Hayao Miyazaki e Isao Takahata, o Studio Ghibli é reconhecido mundialmente por sua abordagem artesanal e detalhista, que valoriza cada frame como uma obra de arte.

Como surgiu a tendência?
A novidade começou no final de março de 2025, quando a OpenAI lançou uma atualização para o DALL·E 3, seu gerador de imagens baseado em inteligência artificial. Com essa ferramenta integrada ao ChatGPT, os usuários passaram a criar ilustrações que imitam o estilo visual do Studio Ghibli a partir de descrições textuais ou fotos. Bastava inserir um prompt descrevendo uma cena ou enviar uma imagem para transformá-la em algo que parecia ter saído diretamente de um dos filmes do estúdio.
A funcionalidade rapidamente viralizou. Redes sociais como Instagram e X (antigo Twitter) foram inundadas por imagens estilizadas que iam desde recriações de fotos pessoais até representações artísticas de memes populares. O sucesso foi tão grande que os servidores da OpenAI ficaram sobrecarregados, levando à suspensão temporária do recurso para usuários gratuitos.
O impacto visual e emocional do Studio Ghibli
Parte do fascínio pela tendência está no apelo emocional ligado ao Studio Ghibli. Os filmes do estúdio são conhecidos por sua estética única: cenários pintados à mão, cores vibrantes e personagens cativantes que transmitem emoções profundas. Além disso, as histórias frequentemente exploram temas universais como amizade, amor, respeito pela natureza e o amadurecimento pessoal. Essa conexão emocional faz com que o estilo visual do Ghibli seja imediatamente reconhecível e profundamente querido por fãs ao redor do mundo.

A polêmica envolvendo direitos autorais e ética
Apesar da popularidade, a funcionalidade gerou controvérsias. Muitos artistas e fãs criticaram o uso da inteligência artificial para replicar o estilo do Studio Ghibli sem autorização ou reconhecimento devido. A principal preocupação é que a tecnologia desvalorize o trabalho manual dos animadores, que dedicam anos para criar cada detalhe das obras. Um exemplo frequentemente citado é o filme Vidas ao Vento, em que uma cena de apenas quatro segundos levou 15 meses para ser concluída devido à complexidade artesanal envolvida.
Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli, já havia se posicionado contra o uso de inteligência artificial na arte. Em 2016, ele declarou que considerava essa tecnologia "um insulto à própria vida" e afirmou que nunca utilizaria IA em suas produções. Para Miyazaki, a arte é uma expressão profundamente humana, impossível de ser replicada por máquinas.
Medidas da OpenAI e reações da comunidade
Diante das críticas, a OpenAI tomou medidas para evitar problemas legais e éticos. Agora, prompts que tentem copiar estilos específicos de artistas vivos ou marcas protegidas por direitos autorais são bloqueados pela ferramenta. No entanto, ainda é possível criar imagens inspiradas em estilos amplos ou movimentos artísticos — como o caso do Studio Ghibli.
Mesmo com essas restrições, muitos artistas continuam preocupados com o impacto da inteligência artificial na valorização da arte tradicional. Para eles, o Studio Ghibli não é apenas um estilo visual; é uma forma única de contar histórias com alma e humanidade — algo que nenhuma IA pode realmente capturar.
Essa tendência reacende debates importantes sobre os limites éticos da inteligência artificial na criação artística e sobre como equilibrar inovação tecnológica com respeito à criatividade humana. Afinal, até onde a tecnologia pode ir sem comprometer o valor da arte feita pelas mãos humanas?
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